Foi minha uma noite. Chegou de repente,
e fugiu como o vento, repentinamente.
Aluna curiosa que aprendeu o prazer,
foi minha uma noite. Não a revi.
Foi a noite sozinha de uma sozinha estrela.
Se olho as nuvens, depois penso nela.
Meu amor não a procura; meu amor não o lume;
a flor desprendida não volta ao ramo,
e as ilusões são como um espelho
que quando se empaña perde seu reflexo.
Foi minha uma noite, loucamente minha:
queima-me os lábios seu sejam ainda.
Bela como poucas, nunca foi mais bela
que sonhando o sonho da noite aquela.
Seu amor de uma noite segue sendo meu:
a corrente passa, mas fica o rio;
e se ela é a estrela de uma noite sozinha,
eu tenho sido em sua praia a primeira onda.
Amor de uma noite que ignorou o fastio.
Somos as distantes orlas de um rio,
entre as que cruza a corrente clara,
e o água une-as, mas separa-as.
Amor de uma noite: se voltas um dia,
já não tenho de te sentir tão louca e tão minha.
Mais que a tortura de uma ferida aberta,
meu amor ama o vento que fecha uma porta.
O amor floresce terra movediza,
e é lei do lume trocar-se em cinzas.
O amor que volta, sempre volta em vão,
bem como um cego que tende a mão.
Amor de uma noite sem amanhecer:
talvez prefiro não te rever!
Biografia Miguel Angel Buesa